A tragédia indígena é militar
É preciso nomear o partido responsável pelo Brasil dos últimos anos
LEANDRO DEMORI
JAN 28
Bolsonaro não tinha um partido ou um grupo político organizado para
tocar a máquina pública brasileira depois que foi eleito em 2018.
O que fez? Usou as Forças Armadas como partido.
Quando se vence uma eleição, bem, é necessário... governar.
A campanha fica pra trás e o dia a dia da máquina pública aparece na
sua frente.
Como nomear ministros, diretores de estatais, de agências reguladoras
e todos os cargos que a administração de um país precisa pra FUNCIONAR?
Nas democracias do mundo todo, essa tarefa cabe aos partidos e seus
quadros. É assim no Brasil, nos EUA, na França, no Japão.
O que fez Bolsonaro? Sem partido nenhum, isolado na vida pública como
sempre foi, o presidente eleito recorreu aos militares. Ministérios, estatais
e agências foram ocupados por fardados.
O Tribunal de Contas da União identificou mais de 6 mil militares em postos
civis no governo. Quase metade deles, identificou a Controladoria Geral da
União, eram irregulares – "há militares que não poderiam estar exercendo
a função civil e outros estavam mais tempo cedidos à administração pública
do que a legislação permite. Há ainda aqueles que estavam recebendo mais
do que deveriam, quase R$ 40 mil reais por mês".
Só em cargos comissionados era 2.673 militares em 2021.
Com um detalhe: 2.075 são da ativa. Eles não fazem falta nas unidades
militares que serve originalmente? Ao menos abre-se aqui um debate sobre
a utilidade (ou inutilidade?) de usarmos impostos para manter esses empregos.
Aparentemente, com o fim do governo Bolsonaro, não precisamos deles nos quartéis.
As principais estatais do Brasil foram comandadas,
via de regra, também por militares: Infraero, Correios, Petrobras, Itaipu…
Na Funai, órgão que deveria ter evitado o holocausto indígena que vimos nas
últimas semanas, dos 39 coordenadores regionais, 22 eram militares
— apenas dois eram civis servidores de carreira. Como poderia dar certo?
Bem, de certa forma, deu certo: em um áudio publicado pela agência de jornalismo
O Joio e o Trigo, um coordenador da Funai prometeu liberar garimpo em terras indígenas.
Qual a conclusão de tudo isso? Simples: que o governo Bolsonaro foi um governo
MILITAR. Um governo militar que chegou ao poder pelo voto.
A tragédia, a desumanidade, a ofensa, a humilhação, a incompetência e a destruição
que vimos nos últimos anos são, por consequência,
MILITARES, e que assim passem à história.
https://youtu.be/oO1u6AM6HC0
Nenhum comentário:
Postar um comentário